06/04/2009

"DISCURSOS" - Mário Cabrita Gil

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA
Castelo de Vide, de 9 de Abril a 3 de Maio
9h00 - 12h30 e 14h00 - 17h30 , no salão grande do castelo



"Estas fotografias não procuram fixar a harmonia convencional de uma figuração do corpo reconhecível e pacificada. Pelo contrário, procuram criar o ensejo de uma perspectivação dos corpos como campo de exercícios produtivos de situações físicas sempre instáveis, precárias e passíveis de surpresa."
Alexandre de Melo
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"As metamorfoses do retrato
Análise de um percurso:
A par de pesquisas experimentais noutros géneros, Mário Cabrita Gil trabalha o retrato em progressiva experimentação. Começa fotografando o corpo, dando relevo à pose: à cumplicidade expressiva entre aquilo que nos diz o corpo e aquilo que nos diz o rosto, que fala por si (A Idade da Prata, Imagem das Palavras, O Entardecer em Alfama).
Numa das fases seguintes, deixando o
rosto fora do quadro, isola o gesto, que ganha relevo. Assim isolado, o gesto torna-se expressão nua: pose pura, desprovida daquilo que só o rosto pode dizer. Um rosto fala. O gesto insinua. Isolado, apenas indicia. Levanta-se uma ponta do véu. Adivinha-se algum mistério que, oculto na sombra, furtivo na intimidade, o corpo oculta dentro de si, sem a expressão do rosto. Sendo esforçado o gesto, sente-se ser dramático o seu modo de falar. Quer falar mas não fala. Acentua-se a tensão entre o que o corpo quer dizer e aquilo que não diz. Aproxima-se a câmara por vezes, fica o corpo mais exposto e o pormenor ressalta. Torna-se pose a mão inerte, um toque, o pé provocante. Revelam-se coisas que antes não se viam, o óculo está focado nas montanhas da lua. Descobre-se o corpo dentro do corpo: a marca. Aqui, a fisionomia não é coisa desse mundo: o indivíduo pertence ao outro. Adensa-se o mistério. A condição humana é feita de coisas dessas, desentendidas (Sombras, Contacto).
Por fim, como se o registo argêntico (
película fotográfica) não bastasse, o olho do fotógrafo recua, esquece a máquina fotográfica, retoma a necessária distância e, em escala aberta, põe-se a ver o corpo com um aparelho de ressonância magnética (tecnologia usada na semiologia médica). E logo descobre um lugar anónimo, dentro da carne, por trás da carne. Um lugar onde todos nos encontramos. Questionando-se, passo a passo, sobre o outro, sobre quem ele é e quem não é, acaba o fotógrafo por se virar para dentro de si, sempre em busca do seu mito, daquilo que nele e no outro existe de comum: sondando, nem sem angústia nem sem assombro, lá por dentro, entre o dia e a noite, lá onde se processa a morte e onde nasce a vida, aquilo que de mais profundo e idêntico o eu e o outro têm em comum, o cerne da questão: o traço fundador da pessoa humana (In Sinu Matris). "
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Agradecimentos:
Mário Cabrita Gil
Luís Serpa
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Fontes:
Exposição promovida pelo Espaço_Corpo no âmbito das comemorações do Dia Mundial da DANÇA, com o apoio da Câmara Municipal de Castelo de Vide

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